sábado, 18 de setembro de 2010

Humildade

Gente Humilde. De Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes, que na maioria das vezes escuto na bela interpretação de Maria Bethania, é um primor. Atravessa as décadas através de nossos avós e pais e chega até nossos dias.

Acho que essa canção "forjou" a ideia de humildade no Brasil. Para o povo brasileiro, humildade não é um atributo de comportamento, mas de classe social. Isso pode gerar um grande engano conceitual, pois, assim como existem ricos humildes, existem também pobrse arrogantes. Não é a classe social que determina o nível de humildade de um ser humano. O que acontece, e aqui estou chutando por intuição, é que a vida simples, dura, com muitas limitações nos obriga a exercer mais a humildade do que quem vive uma vida mais frouxa. Talvez a confusão venha dai.

É muito difícil ser arrogante quando se é obrigado a passar por privações e dificuldades. É difícil sentir-se superior em um trem lotado, em um ponto de um ônibus que não chega, ou numa fila de hospital em que ninguém nos atende. Humildade, muitas vezes, é quase fruto da humilhação injusta que o povo sofre.

Mas a origem simples não define a humildade de ninguém, basta ver garotos que saem de uma vida de muita privação e através do futebol ficam milionários. Muitos deles, só eram humildes por falta de oportunidade de exercer a arrogância.

Humildade pra mim é outra coisa. Humildade é a coragem de encarar uma situação mesmo sabendo que isso não vai enaltecer o ego. É ser capaz de enfrentar, conviver e aceitar as próprias limitações. É preciso ser humilde para pedir ajuda. É preciso ser humilde para aceitar a incapacidade.Quem precisa receber comida na boca, quem precisa de apoio para andar, para tomar banho, sabe a diferença.

Hoje, no trabalho, tive uma conversa que esclareceu bem o que isso significa pra mim. A pessoa que não quer fazer uma tarefa porque acha que não vai ser aplaudida não tem nenhuma humildade. Porque não quer passar pelos primeiros passos, não quer aprender, não quer ser criticada. Só quer fazer o que lhe rende elogios.

Quando um profissional recebe uma crítica pública e usa seu poder de famoso pra pedir a retratação (ou a cabeça...) do crítico indo direto ao seu chefe, isso é o máximo da arrogância, a real falta de humildade. A pessoa vai além de "não gostar de ser criticado". Mas punir a pessoa que critica, indo por cima, pra falar com o chefe? É muita arrogância. É complexo de megalomania.

Dizendo isso também estou sendo arrogante. Eu deveria ser mais humilde e aceitar que tem gente assim e que não é da minha conta. Humildade seria eu saber disso e pensar "coitado desse fulano, que pensa que tem o rei na barriga". Ao implicar com ele eu estou fazendo o mesmo jogo de superioridade. Estamos todos errados.

Humildade é aprender a ser pequeno, finito, mortal. É dar importância ao que importa e não se importar com o resto. É ajudar quem precisa e quem pede, é ser correto e justo. É dizer não com firmeza e sem crueldade.

Isso é ser humilde pra mim. O resto é só fachada pra exercer ainda mais a prepotência. Ou pra fazer papel de coitadinho e monopolizar a atenção.

domingo, 5 de setembro de 2010

Eu mesmo!

Eu me lembro quando era adolescente de responder àqueles cadernos de perguntas que várias criaturinhas faziam, só para descobrir um pouco mais da vida alheia. Lembro que dentre as várias perguntas sobre cor ou time favorito e se gostava ou não de alguém, costumava ter a pergunta: "Se você pudesse ser outra pessoa, quem seria?". Lembro que eu sempre respondia que não gostaria de ser ninguém além de mim mesmo. Mas lembro também que respondia dessa maneira, mais por parecer a resposta certa a se dar, do que por realmente não querer ser nada além de mim. Não que houvesse alguém que eu admirasse ao ponto de querer ser aquela pessoa, mas ao mesmo tempo não me sentia plenamente seguro quanto ao fato de querer ser somente eu. Na realidade minha auto-estima naquela época não era das melhores, logo era normal ter dúvidas quanto a isso.
Hoje percebo que se tivesse que responder a essa pergunta, seja em um caderno de adolescente, ou a qualquer pessoa, responderia que não gostaria de ser ninguém além de mim mesmo, sem titubear. Faz tempo que não me sentia assim, satisfeito em ser somente eu. Com meus vários defeitos, minhas não tão várias qualidades, meus gostos, meu som, meu rosto, meu tempo, meu tudo. Parece que de alguma forma que não sei dizer como, tudo está em harmonia. Meu eu entrou em um equilíbrio nunca antes sentido. E é bom isso. É bom se sentir em paz consigo mesmo, pelo menos uma vez na vida.