Eu gosto de trens, e de toda a atmosfera do mundo ferroviário. Trens carregam consigo grandes doses de sentimento. Uma estação de trem é palco de emocionantes reencontros e dolorosas despedidas (assim como canta o Milton Nascimento). Melhor que um aeroporto, já que lá há também a tensão de voar. Dessa forma, os trens e a saudade são elementos muito próximos. Muita saudade pode começar ou terminar num trem.
Para alguns o termo “saudade” tem sido banalizado pelo colóquio: segundo eles, deveria ser restrito apenas ao sentimento por alguém (ou algo) que não volta mais. Por um tempo que não dá para recuperar. Por uma pessoa que se foi para sempre e é inacessível. Será que só assim? A saudade é sombria, mas pode ter atenuantes sim.
A palavra saudade deve ter sido criada na época das grandes navegações, para expressar o sentimento da mãe ou do(a)s amantes dos exploradores que iam para o outro lado do mundo e provavelmente não voltaria jamais, ou melhor, não havia um data provável do desejado reencontro.Sempre se tinha uma esperança de volta. O fado me parece ser a música da saudade, e não só do luto. Uma música onde a dor da ausência sangra numa ferida exposta.
Por isso mais do que restringir o uso da palavra “saudade”, tento expressa-la mesmo de forma chula, em um post. Porque saudade não é apenas de quem morreu, ou de quem mudou tanto que ficou irreconhecível. Podemos sentir saudades de nós mesmos, de pedaços autônomos de nós que perambulam pelas ruas ao nosso encontro desencontrado.
Mas, enquanto existir trem sempre haverá ao lado da saudade uma coisa ( sei lá...) chamado reencontro ( fortalecido por outra coisa chamada esperança ).